21 anos, estudante de Psicologia – UFSM, natural de Porto Alegre.
"Conheci a JuNF através de um grupo no facebook que, na época, era aberto.
Quando olhei quem fazia parte desse grupo, percebi que eram meninas que eu via
no meu antigo colégio, na Universidade, na rua, em diversos locais, mas que
poucas vezes (para não dizer nunca) conversei. Com esse grupo eu pensei que
poderíamos trocar informações sobre questões que perpassam a negritude,
principalmente sendo jovem e mulher, e estava certa."
"Minha
perspectiva para o futuro está relacionada à minha carreira profissional. Formo-me
como Psicóloga pela UFSM e pretendo fazer uma especialização para, além de
poder me sustentar e sustentar minha filha, poder ter maior propriedade sobre
meu trabalho."
"Ser mulher
negra na nossa sociedade não é fácil, pois além de enfrentarmos o machismo,
enfrentamos o racismo que, infelizmente, no nosso país é muito forte. Junto a
isso, não podemos esquecer que grande parte da população negra ocupa classes
sociais mais baixas e ocorre uma discriminação de gênero, de raça e de classe. Não
sou rica, mas tive oportunidade de estudar em escola particular, fazer cursos,
viagens que ajudaram na minha formação, e sei que são poucos negros que
conseguem ter essas oportunidades e ocupar esses espaços majoritariamente
brancos. Aos poucos me fui me empoderando, me aceitando como sou, com meus
lábios e testa grandes, meu nariz chato, com meu cabelo que é bom e lindo,
mesmo o racismo dizendo que não. Aos poucos fui percebendo que me assumir como
mulher negra não era só uma questão estética, mas uma questão política, de não
querer sempre ser submetida a estereótipos, a uma anulação em diversos setores
da sociedade."
"O racismo
existe e está no discurso que não é questionado, na piada que todo mundo
conhece, na atitude que muitos têm. Conhecemos muitos casos de racismo que são
denunciados ou que passam “de boca em boca” e achamos que nunca acontecerá
conosco até o dia que nos flagramos no meio de um caso.
O meu aconteceu no final de 2009, ou início de 2010. Um amigo queria me apresentar um grupo de amigos dele, e já havia falado muito de como eles eram legais, interessantes, divertidos e tinham assuntos legais de se conversar. Esse meu amigo também disse que o filho de um deles era “um pouco racista”, mas na época eu não acreditei, pois julgava isso como algo que não existisse mais e que as escolas e os pais trabalhariam isso com as crianças. Ficamos adiando esse encontro devido às aulas e trabalhos de ambos até que em uma bela noite eu os conheci. O grupo era sim muito divertido, diverso, interessante e muito comunicativo, e sim, tinha a criança “meio racista”, de mais ou menos oito anos, que me falaram. Constatei isso quando fiquei sozinha com ela, e ela pode então perguntar se eu era amiga de Fulano. Respondi que sim, que éramos muito amigos e perguntei se ela tinha amigos no colégio. A resposta foi “sim, tenho amigos no colégio, e também tem meninas pretas lá, mas eu não converso delas”. Perguntei o motivo e ouvi “por que são pretas!” e ficou me olhando. Encarei de volta a criança e disse que o que ela estava fazendo era uma discriminação, que era errado julgar uma pessoa pela cor de pele, pela idade ou por qualquer outra razão sem conhecê-la. A criança concordou comigo.
Quando essa criança de oito anos me disse que não gostava de alguém por ser negro/negra eu fiquei espantada e preocupada. Espantada por que eu não sabia como falar com uma criança de que o que ela dizia e fazia é racismo, que esse não gostar justifica muito crime contra a população negra, além de estereotipa-la como sendo feio, indigno, e empregado. Que não conversar com meninas pretas reforçava o discurso implícito que elas não são tão belas quanto as brancas, que casais interraciais não devem existir, que a negra é objeto de uso. Preocupada por que essa criança não aprendeu isso da noite para o dia, essa ideia de que não podia conversar com negros/negras foi reforçado, seja pela família ou pela escola, por exemplo. Isso me deixou pensando na questão de como o racismo, assim como o machismo e a homofobia, são vistos, como que ocorre o combate a esses preconceitos e como deixar claro para uma criança (e muitos adultos) que não é só uma brincadeira, é racismo, que não é só uma opinião, é racismo.
Algumas pessoas do grupo acabaram mudando de cidade, outras trabalham ou estudam muito e acabaram não se reunindo mais. Consequentemente eu não vi mais a criança, mas lembro dela, pois foi ela que me alertou que o racismo ainda existe e que muitas vezes não é questionado."
O meu aconteceu no final de 2009, ou início de 2010. Um amigo queria me apresentar um grupo de amigos dele, e já havia falado muito de como eles eram legais, interessantes, divertidos e tinham assuntos legais de se conversar. Esse meu amigo também disse que o filho de um deles era “um pouco racista”, mas na época eu não acreditei, pois julgava isso como algo que não existisse mais e que as escolas e os pais trabalhariam isso com as crianças. Ficamos adiando esse encontro devido às aulas e trabalhos de ambos até que em uma bela noite eu os conheci. O grupo era sim muito divertido, diverso, interessante e muito comunicativo, e sim, tinha a criança “meio racista”, de mais ou menos oito anos, que me falaram. Constatei isso quando fiquei sozinha com ela, e ela pode então perguntar se eu era amiga de Fulano. Respondi que sim, que éramos muito amigos e perguntei se ela tinha amigos no colégio. A resposta foi “sim, tenho amigos no colégio, e também tem meninas pretas lá, mas eu não converso delas”. Perguntei o motivo e ouvi “por que são pretas!” e ficou me olhando. Encarei de volta a criança e disse que o que ela estava fazendo era uma discriminação, que era errado julgar uma pessoa pela cor de pele, pela idade ou por qualquer outra razão sem conhecê-la. A criança concordou comigo.
Quando essa criança de oito anos me disse que não gostava de alguém por ser negro/negra eu fiquei espantada e preocupada. Espantada por que eu não sabia como falar com uma criança de que o que ela dizia e fazia é racismo, que esse não gostar justifica muito crime contra a população negra, além de estereotipa-la como sendo feio, indigno, e empregado. Que não conversar com meninas pretas reforçava o discurso implícito que elas não são tão belas quanto as brancas, que casais interraciais não devem existir, que a negra é objeto de uso. Preocupada por que essa criança não aprendeu isso da noite para o dia, essa ideia de que não podia conversar com negros/negras foi reforçado, seja pela família ou pela escola, por exemplo. Isso me deixou pensando na questão de como o racismo, assim como o machismo e a homofobia, são vistos, como que ocorre o combate a esses preconceitos e como deixar claro para uma criança (e muitos adultos) que não é só uma brincadeira, é racismo, que não é só uma opinião, é racismo.
Algumas pessoas do grupo acabaram mudando de cidade, outras trabalham ou estudam muito e acabaram não se reunindo mais. Consequentemente eu não vi mais a criança, mas lembro dela, pois foi ela que me alertou que o racismo ainda existe e que muitas vezes não é questionado."
"Na época
do caso que relatei, eu não me questionei tanto quanto me questiono hoje. Eu
não falei para os pais dessa criança o que ela me disse, por exemplo. Poderia
ter dito os motivos do meu espanto e preocupação para os pais, pois eles teriam
capacidade de entender, diferentemente de falar para a criança esses
argumentos. Como foi uma criança que se mostrou racista para mim, eu não
poderia denunciá-la, então penso que a melhor maneira seria ter falado com os
pais."
Acompanhe a o blog da JuNF e mantenha-se atualizado para conferir as próximas minibiografias!
Beijos
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